Hoje é 6ª feira, dia 16 de Março. Como avançar da semana, os dias acordam cada vez mais cedo para a música. O despertador impõem-se, uma vez que a entrada na Zona Rosa está marcada para a 1pm e não há tempo a perder.
O objectivo principal da tarde são os Cinematics, que ontem que nos deixaram à porta na Flamingo Cantina. Ainda assim, chegamos à 1pm em ponto a tempo de ver os Mando Diao, suecos com o brit pop no sangue e muita vontade de passar ao rock, que fizeram um bom aquecimento para a brilhante para o que ainda estava para vir.
Os Cinematics subiram então ao palco de La Zona Rosa às 2pm para um brilhante concerto que foi curto demais para ter tempo de percorrer na íntegra o álbum de estreia da malta da Escócia, "A Strange Education", e educada na mesma escola dos Franz Ferdinand, talvez a atirar mais descaradamente para o lado dos Editors, mas também anda tudo ligado. Soube a pouco, podíamos ter ficado ali mais meia horinha. Nada feito...
Às 2.30pm é a vez dos The Horrors darem conta do palco e do cenário da Zona Rosa. Não que tenha sido um horror, mas neste caso o mais importante é mesmo a imagem e o espalhafato e não tanto a música. É bonito de se ver durante duas ou três músicas. Mais que isso... há gostos para tudo.
De volta à downtown, e mais de passeio pela 6th St debaixo de um sol cortante à procura de qualquer coisa que nos chame a atenção, somos atraídos pelo som de "Chelsea Dagger". São 5.30pm e os Fratellis estão a tocar no Bourbon Rocks, na festa da Island Records. Muita gente, um concerto animado e bem conseguido, ainda que em formato reduzido ao estilo showcase, e que depois de visto faz ouvir o disco com outros ouvidos. Depois das 6pm, e ainda no Bourbon Rocks, voltámos a ver o Mika em palco, desta feita à maneira acústica, e apenas acompanhado pelo guitarrista da banda. Depois de visto o concerto com a banda completa, a versão acústica não tem o mesmo impacto.
Hora de paragem obrigatória na Pizzaria Paparazzi, onde o Luigi nos ofereceu o jantar dois dias seguidos porque gostou do disco dos You Should Go Ahead, que a banda lhe tinha oferecido no dia anterior. Portugal foi aqui um excelente cartão de visita. Boas pizzas de pepperoni & cheese.
No Convention Center, para além de se poder dar descanso aos pés por umas horinhas, há bons concertos a tarde toda e pela noite dentro para quem quiser aparecer. Às 8pm tocaram os Anuals, vindos da Carolina do Norte, e dada a diversidade sonora e de elementos da banda são à primeira vista os Arcade Fire lá do sítio, claro está, com as devidas distâncias, porque no fundo no fundo não têm nada a ver. Apenas trocam de lugares, tocam tudo o que tiverem de tocar e dominam as secções uns dos outros. É sempre impressionante.
Ainda no Convention Center, da Carolina do Norte para a Suécia, que às 9pm desceu até Austin na pele dos Pete, Bjorn and John. O assobio está lá, confirma-se, mas é gravado. Há momentos que resultam e puxam ao batimento do pézinho, mas ou o cansaço já falava mais alto, ou são uma banda melhor para ouvir em disco do que ao vivo.
Às 10pm batem as badaladas que nos chamam até à Central Presbyterian Church. Depois de alguma hesitação ditada pelos fortíssimos argumentos das solas dos pés que defendem a sua causa como ninguém, acabamos por ganhar o caso e seguimos viagem um bocadinho e um bocadinho andando, como o Armando, até à 8th St. Casa cheia para ver Duncan Sheik de barbas e guitarra em riste. Com dificuldade lá brilha ao fundo um lugar num dos bancos corridos da igreja. A luz é praticamente inexistente, de resto como em todos os concertos que aqui se realizam, o que enfatiza o espírito de comunhão solene provocado pela acústica da "sala" e pelo silêncio sepulcral vindo da assistência.
Os Polyphonic Spree ditam o regresso ao Convention Center às 10.30pm, talvez um pouco mais tarde. Há quinze músicos em palco, há uma verdadeira orquestra vocal e instrumental e há um maestro que sem ser maestro é o maestro de serviço, que põe ordem naquele pelotão todo. Não se percebe bem como conseguem manter tal equilíbrio durante uma hora. Passou uma hora, é verdade, e alguém deu por isso?
De regresso à confusão da ordem na 6th St, que há que manter os ouvidos habituados aos zumbidos da praxe. Damos entrada no The Parish pela primeira vez. Passam poucos minutos das 11pm e quem enche o palco é Steve Earl. Um senhor. E a alma com que enche o pouco que resta encher do espaço não deixa grande margem para palavreados. Neste caso, ver talvez seja até mais importante que ouvir. Absorver. E ter lá estado. Com direito a encore e tudo.
[São entretanto horas de ir resgatar o Dodge que, ali entre as 6pm e as 7pm, foi rebocado do parque onde estava estacionado por falta de pagamento motivada por um equívoco que ainda hoje nenhum dos presentes consegue explicar. Carros rebocados em Austin... é vê-los passar. Um negócio da China. Rebocaram o carro do rock... que desfeita!]